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História Educação

OS NOVOS CABANOS

e a luta em defesa da educação paraense

20/02/2025 10h17
Por: Arodinei Gaia
OS NOVOS CABANOS

Por: Arodinei Gaia

(Escritor e Colunista)

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No dia 07 de janeiro de 1835 os paraenses cabanos invadiram Belém, destituíram o presidente da província Bernardo Lobo de Sousa e, pela primeira vez na história do Brasil, o povo tomou o poder.

No dia 14 de janeiro de 2025 os novos Cabanos formados por revoltosos contra o poder, ocuparam a SEDUC. Os povos indígenas tomando a frente e mostraram como iniciar uma batalha.

Os cabanos de outrora eram formados por ribeirinhos, indígenas, negros, cabocos do interior paraense. Os cabanos de hoje são indígenas, quilombolas, ribeirinhos e professores.

O que há entre os dois movimentos separados por 190 anos?

Qualquer semelhança não é mera coincidência. Tem tudo a ver. Além dos dois grupos serem formados por oriundos da classe popular, o que liga os dois fatos históricos são as causas que revoltaram a população: A POSTURA TIRANA DO GOVERNO e a figura de um ESTRANGEIRO no poder asfixiando o paraense.

Rossieli Soares, assim como Bernardo Lobo, não é paraense. Porém os dois tem em comum o fato de ostentarem poderes exagerados em suas mãos usados para massacrar o povo do Pará.

Assim como o governo Regencial não colocava um paraense para governar a província do Pará, hoje o governo Helder Barbalho também traz de fora funcionários para os altos cargos no Estado, a exemplo da gigante secretaria de educação.

Com essa decisão, Helder está afirmando que não existe no Pará alguém com competência suficiente para assumir a Secretaria de Educação? Ou existe mesmo outros interesses, possivelmente escusos nos bastidores da ocupação do referido cargo por um “estrangeiro”. Não há outra explicação em se tratando de um cargo que existe sim, centenas de paraenses com notável competência para o cargo.

... E continua a indagação que todo o Pará quer saber. Por que Helder Barbalho não colocou um paraense na Secretaria de Educação?

Rossieli e Helder com a Lei 10.820 sabotou a educação paraense, reduzindo salários de professores, ameaçando o povo do campo com ensino à distância. Então foi para isso que o gaúcho veio? para atacar a educação popular, intento que talvez um paraense não o fizesse, a não ser que também fosse destituído de coração, amor a terra ou então convencido por interesses vergonhosos.

A referida lei e o ensino à distância provocaram um levante no Pará. Nada mais parecido com a guerra dos cabanos que bravamente lutaram pelo seu chão e pelo seu pão, pois não concordavam com a situação de abandono e repressão que se vivia na época. Era o “mel para a elite e o fel para o povo”. O momento agora não é ou não foi muito diferente.

Se a Lei 10.820 não fosse nefasta ela não teria sido aprovada na surdina, escondido e apoiada por maioria de deputados capachos do governo, cúmplices de seus desmandos, sem nenhuma discussão com a população interessada. A forte opinião pública contra a referida Lei e a manifestação de revolta por todo o país e até pelo mundo contra o governo Helder e em apoio aos manifestantes mostrou que algo de estranho havia com essa lei. Era, realmente uma Lei da maldade que iria tirar a comida da mesa de milhares de paraenses, tanto os que trabalham na educação como os que, indiretamente, são alimentados pelos salários deles, os docentes.

Uma Lei, normalmente, é criada para garantir direitos, no Pará ocorreu o contrário.

E assim como Bernardo Lobo reprimiu o povo, Helder Barbalho assistiu a polícia bater nos professores que se manifestaram dia 18 de dezembro de 2024, dia que a Lei da maldade foi aprovada. Os professores estavam na frente da ALEPA lutando como os cabanos nas ruas de Belém. Foi nesse dia que o povo foi apunhalado pela maioria dos deputados, serviçais do governador que votaram pela aprovação. Apenas onze deles se mantiveram fiéis a função que o cargo delega: A defesa dos interesses do povo que os elegem. Afinal o legislativo é representante do povo e não do governo.  

Docentes sendo tratados como criminosos no Pará, assim como os Cabanos também foram.

Os cabanos, a história cuidou de os colocar no panteão de bravos lutadores e não de bandidos como por anos foram tratados. Assim será feito com os Novos Cabanos, aliás já foram. Mesmo com a mídia oficial ou comprada noticiando o contrário, o mundo todo conheceu, por meio das redes sociais e pelas mídias alternativas quem foram/são os verdadeiros vilões e heróis dessa história.

... Outra indagação continua. Por que Helder e Rossieli insistem em mandar ensino à distância pra filho de trabalhador enquanto os seus estudam no ensino presencial?

Além da temida Lei 10.820, Rossieli tenta implementar o CEMEP, ensino a distância para o estudante do interior e há quem diga se tratar de esperança para o povo do campo. Substituir docentes por televisores não é esperança e sim um crime covarde contra a educação dos menos favorecidos. A televisão, a internet, os aparelhos de multimídia são bem-vindos, mas para somar, auxiliar os docentes e não na condição de substituto de pais de famílias que estudaram para se tornar profissionais da educação.

Não é justo os filhos da realeza estudando com os melhores professores e professoras enquanto os filhos de trabalhadores com um mísero aparelho de televisão. Essa economia nunca será justificada. Falta isonomia no trato aos estudantes de classes sociais diferentes.

Afinal! Quantos milhões valem o ‘desaprendizado’ de nossos estudantes?

Os desmandos de Helder e Rossieli conseguiram a proeza de unir vários grupos em uma luta comum: a revogação da Lei 10.820 e a demissão de Rossieli Soares. E assim, como os cabanos de outrora tiraram o estrangeiro do palácio do governo, os novos cabanos insistem na demissão do estrangeiro que ocupa o cargo na SEDUC com altos poderes em suas mãos. A Revogação aconteceu a Demissão não, porém a situação de Rossieli no cargo é insustentável, ele foi desmoralizado pelo movimento, perdeu o respeito de todos e seria uma atitude mais idiota ainda de Helder Barbalho mantê-lo no cargo com tamanha rejeição do povo paraense, a não ser que o governador queira se contaminar também por tabela. Creio que sua inteligência política não deixará.

Rossieli Soares deve virar um bibelô no governo até cair como uma fruta madura cai da árvore. Falta-lhe sustentação. Ele já não tinha a simpatia de aliados do governo, hoje perde o apoio de todos, menos dos inimigos da educação. É bom lembrar que o referido secretário já sofreu investigações e processos quando foi secretário de educação no Amazonas e em São Paulo, e segundo o site de notícias Intercept, existem sérios indícios de corrupção na aquisição de equipamentos do ensino a distância chamado de CEMEP.

O movimento dos novos cabanos, recebeu apoio da população geral, de jornalistas, artistas, influenciadores, estudantes e de instituições como UFPa, UEPa, CNBB, políticos de esquerda e de direita, ONGs, Associações, sindicatos, docentes aposentados, pessoas ligadas ao agronegócio, pois eles também foram afetados por uma lei aprovada na surdina. Ganhou apoio de pessoas ligadas a cultura e comunicação, pois o governo também atentou, contra órgãos dessa secretaria, que após grandes protestos acabou por recuar. Até o grande poeta Paes Loureiro saiu do descanso para protestar contra o governador.

Ah! os protestos! Os protestos casados com a união são armas da população.

No dia 05 de fevereiro o governador recuou e assinou a Revogação da Lei e no dia 12 de fevereiro os deputados, tiveram que engolir a lambança que fizeram e acataram a revogação e votaram a Repristinação, isto é, a volta das leis que eles mesmos destruíram no fatídico dia 18 de dezembro de 2024. (Lei estadual nº 5.351 de 1980; Lei Estadual nº 7.442, de 2010; Lei Estadual nº 7.806, de 29 de abril de 2014; Lei Estadual nº 8.030, de 21 de julho de 2014; Lei Estadual nº 9.322, de 06 de outubro de 2021; inciso XI do art. 132 e o art. 246 da Lei Estadual nº 5.810, de 1994; § 11 do art. 14 da Lei Estadual nº 9.890, de 2023).

Rossieli Soares já havia cometido “delitos” contra a educação no Estado do Amazonas e no Estado de São Paulo e achou que no Pará não seria diferente. Inclusive ele teve a ‘ingenuidade’ de dizer, numa entrevista, que um grupinho de professores não seria obstáculo para o seu intento. Ele só não contava que no chão paraense existe um gigante chamado Sistema Modular e um povo pronto para lutar.

Enfim! Após quase um mês de ocupação da SEDUC e bloqueio de estradas, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, profissionais da educação e Sintepp com apoio de diversos personagens foram protagonistas em uma luta que o bom senso venceu e a democracia deu o seu recado. Destaque para os povos indígenas, os grandes iniciadores da batalha de janeiro que estenderam às mãos aos docentes e assim, firme se mantiveram até o final e desocuparam a SEDUC após 32 dias de protesto. Aluta contra o CEMEP continua, o Ministério Público está em vigília.

Após a votação na Câmara dos deputados uma nova batalha se inicia. Uma comissão, composta por representantes de todos os grupos envolvidos, irá discutir a constituição de uma nova lei para o magistério paraense.

Mas que ninguém durma pois os ‘bandeirantes’ não dormem!  

Viva os novos Cabanos!

Surara!!!

 

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Arodinei Gaia
Sobre Arodinei Gaia
Historiador, Escritor e Poeta na empresa AGS, Colunista de Cametá e trabalha como Professor na Secretaria Executiva de Educação do Pará.
Cametá - PA

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Cametá é uma cidade localizada no estado do Pará, no norte do Brasil. Possui uma rica história que remonta à colonização portuguesa, e possui uma cultura diversificada e vibrante. Com belas paisagens naturais, como rios e florestas, Cametá é um destino popular para os amantes da natureza e do ecoturismo. Além disso, a cidade também possui uma economia forte, com destaque para a pesca, agricultura e comércio. Com uma população acolhedora e hospitaleira, Cametá é um lugar encantador para se visita
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